Cerimônia de casamento é sinônimo de “Valsinha”, a música de Vinicius de Moraes e Chico Buarque, que está no disco “Construção”, de 1970. Tempos depois de o disco ter saído cantei essa canção para a entrada de minha irmã caçula, Walderez. Letra e melodia emocionam e fui convidado a cantar a mesma música para a entrada de outras noivas.

Logo mais haverá um casamento. De Ellen e Wagner. Entre tantos alunos, ao longo de todos esses anos, prefiro identificá-los como sempre o fiz, pelos sobrenomes. Hoje é o dia do casório de Ellen Rotstein e Wagner Kojo. Não tenho a menor idéia de como será a cerimônia. Sei que lembrarei a velha música.
Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Ele, que hoje será o Wagner, é tipo quieto, fala pouco. Revejo o aluno tão aplicado quanto ambicioso. Boca dura e, próprio do jovem demais, um tanto ou quanto prepotente. No entanto, uma frase ficou como diferencial daquele aluno, no começo dos anos 2000; em meio aos colegas divididos entre Palmeiras, Corinthians e São Paulo FC, ele foi enfático: – Não tenho tempo para perder com essas coisas.
No pretenso país do futebol, foi bom conhecer um cara que não se deixa levar pela onda e tem objetivos bem determinados. Ficamos amigos, porque gosto de gente com personalidade marcante, e o tempo tem confirmado que o Wagner fez escolhas certas. É bem sucedido, dentro de parâmetros muito precisos, sem nunca ter deixado de ser um jovem contemporâneo, divertindo-se e vivendo um grande amor ao lado da Ellen.
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
Tenho certeza que o vestido dessa ela que é a Ellen não cheira a guardado. Mesmo porque ela não é do tipo que espera, prefere fazer, ir atrás, brigar pelo que deseja. Miudinha, sempre falante e sempre com um sorriso que é só dentes, muitos dentes! A aluna brigava pelo que queria e impunha-se perante os colegas.
Autônoma e decidida, por exemplo, atravessa a cidade para comer comida japonesa (e algumas vezes nos encontramos pela mesma afinidade). Houve um momento que achei que perderia Ellen para o Canadá; de outra vez, para Florianópolis. Inquieta, ela vai longe. Ela busca algo, além do comum. Talvez esteja na Igreja que freqüenta, na profissão que escolheu, ou na família que começa a construir.
Eu vi o começo desse namoro, vi o desenvolvimento com todas as nuances de um relacionamento real. E agora testemunharei o enlace fazendo-me padrinho. Espero ver muita dança na noite desta sexta-feira; muitos beijos loucos e espero, com muita vontade, que o final de “Valsinha” venha a repetir-se hoje, amanhã e sempre:
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz
Ellen, Wagner, um grande beijo!