
Quando escrevi sobre o Rock in Rio, abordei alguns aspectos que valem basicamente para o próximo grande evento, o SWU. Este festival ocorre em Paulínia, no interior de São Paulo, nos dias 12, 13 e 14 próximos. Há dois textos sobre este evento, edição do ano passado, escritos pelo Flavio Monteiro. O primeiro – O que de bom reserva o SWU – e o segundo – SWU ou Woodstock Fail – após a ida de Flávio ao evento. Seria importante relembrar as questões abordadas pelo blogueiro que, também, é músico. É clicar nos links para ir direto ao ponto.
Espero que os problemas abordados nos textos indicados acima tenham sido, no mínimo, parcialmente sanados. Comparações entre o que se promete agora e o que ocorreu no ano passado indicam que há muito por ser resolvido. Pretendo, neste post sugerido por Samuel Carvalho (Grato!), uma pequena contribuição para uma reflexão sobre esses grandes eventos, com múltiplas atrações, apelos distintos e simultâneos como os dois festivais citados e, um terceiro exemplo, a Virada Cultural que ocorre anualmente em São Paulo.
O pretexto para justificar socialmente o SWU é a tal da sustentabilidade. O Rock in Rio teve como projeto de responsabilidade social o tema “Por um mundo melhor”. Os dois eventos citam instituições filantrópicas beneficiadas. O objetivo primário da Virada Cultural seria revitalizar o centro da capital paulistana. E é assim, cheios de objetivos “saudáveis” que múltiplos eventos são oferecidos em poucos dias. É aqui que entra a “Música em shopping center”.
Sempre que vejo vários palcos e várias atrações simultâneas, sinto-me em um desnecessário shopping. Neste local de comércio costumamos ir por algum interesse específico. Chegando lá, as construções são labirínticas; as placas de sinalização indicam o caminho mais longo, para que possamos passar pelo maior número possível de corredores. Há as lanchonetes de sempre, as grandes lojas de todos os shoppings. Quando muito, o diferencial costuma ser o preço. É sempre tudo muito igual.
Nos grandes eventos musicais temos “marcas” famosas, também sempre presentes. Elas dão credibilidade, estabelecem um nível de consumo, determinam a “classe” do público. Há shows de abertura que lembram quiosques que vendem produtos acessíveis, ordinários, logo na entrada dos estabelecimentos. Há outro tipo de show, que lembra uma vitrine maravilhosa, com seus manequins ocos e fabricados em escala industrial. E se o shopping abre todas as suas lojas simultaneamente, o mesmo acontece em festivais com seus vários palcos e demais atrações. O interesse geral é seduzir.
Acostumados à cultura da grande e variada loja, o público gosta. Tanto é que esses eventos são freqüentados por milhares. Só que acabamos vendo o que não queremos, somos seduzidos por ofertas duvidosas e se há muita gente que compra por impulso, os festivais e similares levam-nos a acreditar que certos indivíduos são ídolos, ou artistas. Afinal, estão no importante evento e ocupam um palco destacado.
Sobre os festivais, iniciativa privada, resta refletir sobre a idoneidade de intenções e, quando pertinente, cobrar resultados compatíveis com as vendas de ingressos e demais fontes de renda. Já em um evento como a Virada Cultural, feito com dinheiro público, resta o dever de cobrar dos nossos dirigentes uma política de ação contínua. No caso, para a revitalização do centro antigo da cidade.
Neste ano, a organização informa que foram 952 atrações apresentadas em 93 locais e 121 espaços. Ou seja, centenas de shows durante as 24 horas da Virada só faz com que as pessoas caminhem pelas velhas ruas como se… Estivessem em um shopping. Com a diferença que neste shopping só voltarão no ano seguinte. E não é necessário ser economista pra deduzir que uma noite não levanta a economia de uma região. O sucesso da Virada agrada aos dirigentes políticos; tanto é que a levaram para toda a cidade (a revitalização do centro concorre com a revitalização dos bairros?) além de edições no interior e no litoral do estado.
Mais para frente, devidamente distanciados, veremos essa fase da história da música popular, e de suas variadas vertentes como a era dos grandes eventos. Começaram com idealismo nos anos de 1960, foram responsáveis por grandes campanhas altruísticas nas décadas seguintes e que, durante certo período – que é o que vivemos – foram transformados em poderosas máquinas de levantar dinheiro. O final desse período ainda está por acontecer.
Comparação perfeita.
Ser comercial é importante, mesmo porque o pessoal envolvido precisa de tirar alguma vantagem financeira, mas ultimamente tá ficando plastificado demais.
Também gostei da comparação; Eu gostava da Virada Cultural, mas hoje eu critico. Milhões e milhões gastos em um só dia, sendo que o lance poderia ser distribuído ao longo do ano. E o resultado é o que você disse, fica só um negócio pontual, sem efeito real na revitalização do Centro. Fora que é no mínimo estranho passar a pé de madrugada no meio da cracolândia e parecer seguro.
A propósito, valeu pela referência!
Abraço!
Muito pula, pula; beijo na boca; tragadas, raladas; juntadas, empurradas..etc…etc…. Um veradeiro “OBAOBA.
Vamos invadir Paulínea.
Quanta ostentação!!!!!