
Fossem outras as circunstâncias e eu teria escrito sobre o centenário de Nelson Cavaquinho (1911/2011), comemorado neste sábado, 29 de outubro. Trabalhos, notas, provas e uma banca de quase doze horas na universidade… E a vida é bela porque há um trabalho que termina, como no sábado, com muitos e emocionados abraços daqueles que, agora, partem para as últimas atividades antes da formatura.
Nelson Cavaquinho é merecidamente homenageado. No Rio de Janeiro está sendo lançado o disco “Carlinhos Vergueiro Interpreta Nelson Cavaquinho”. Também ocorreram shows e palestras lembrando um dos grandes mestres do samba, compositor da Mangueira, a Escola de Samba que é Verde e Rosa.
Em Mangueira
Quando morre um poeta
Todos choram
Vivo tranqüilo em Mangueira porque
Sei que alguém há de chorar quando eu morrer…
E foi assim, em 1986, quando o compositor faleceu em 18 de fevereiro. Neste 2011, a Mangueira desfilou com o enredo “O filho fiel, sempre Mangueira”, abrindo as comemorações do centenário de Nelson Cavaquinho. Agora é a vez de São Paulo lembrar com uma série de shows as músicas sombrias, o samba bonito que fala de dor e de morte, dos desencontros, dos amores perdidos. Nelson é um dos autores das músicas mais tristes do nosso cancioneiro.
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor…
Os shows por aqui serão no Centro Cultural Vergueiro; a série de espetáculos musicais recebeu o nome “Uma Flor para Nelson”. O primeiro será no dia 3, quinta, com Benito de Paula e Marcos Sacramento; depois, dia 4, será a vez de Ângela Ro Ro e Cida Moreira; duas intérpretes de qualidade. No sábado tem o jovem Filipe Catto e a grande estrela Zezé Motta. A série de shows termina no domingo, com a presença de Graça Braga, Verônica Ferriani e Teresa Cristina.
Músicas que não faltarão nessas noites paulistanas: “Folhas Secas”, cujas interpretações de Beth Carvalho e Elis Regina, até hoje, disputam a preferência dos admiradores do compositor; “Juízo Final”, provavelmente o maior sucesso em vendas e execuções, na interpretação definitiva de Clara Nunes e, minha preferida, “Palhaço”, que curto ouvir na voz de Dalva de Oliveira.
Sei que é doloroso um palhaço
Se afastar do palco por alguém
Volta que a platéia te reclama
Sei que choras, palhaço,
Por alguém que não te ama…
Gosto das canções tristes de Nelson Cavaquinho, da suavidade com que criou sambas deliciosos. São músicas tão boas que até me esqueço que são tristes. Sobretudo, aprecio a capacidade de síntese de Nelson e seus parceiros. Poucos versos e muita, mas muita verdade mesmo. E beleza, de músicas que sobrevirão muito além deste primeiro centenário do criador.
Os interessados nos shows poderão obter entrada franca. O Centro Cultural São Paulo informa que a retirada de ingressos é na bilheteria (terça a domingo, das 10h às 22h), somente na semana da apresentação. Ou seja, termine de ler e reserve uma hora para amanhã, terça, ir buscar o seu ingresso na Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso, bem ao lado da estação do Metrô.
Boa Semana!
As músicas citadas e seus autores:
Pranto de poeta – Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito
A Flor e o espinho – Nelson Cavaquinho, Alcides Caminha e Guilherme de Brito
Folhas Secas – Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito
Juízo Final – Nelson Cavaquinho e Elcio Soares
Palhaço – Nelson Cavaquinho, Oswaldo Martins e Washington Fernandes
Parabéns querido Valdo.
Vc é que nem vinho, quanto mais………………..
Prá quem tá amargando uma dor-de-cotovelo nessa segunda-feira deprimente, o cavaquinho do Nelson foi uma paulada na moleira! Lindo demais, de cortar os pulsos rsrsrs
Valeu a dica, beijos, e boa semana meu amigo vinho, ops Valdo!
Maravilha também é “Degraus da Vida”.
E é com esta música que dedico todo o meu carinno a Nelson do Cavaquinho:
“sei que estou no último degrau da vida
Já estou envelhecido, acabado
Por isso muito eu tenho chorado
Eu não posso esquecer o meu passado
Foram-se os meus vinte anos de idade
Já vai muito longe a minha mocidade
Sinto uma lágrima rolar pelo meu rosto
É tão grande o meu desgosto.”
Fez Arte com Arte da própria vida. Um Gênio.
Criou e cantou sambas de beleza indescritível.
Nelson Cavaquinho: Um grande trovador.
Já não se fazem mais Nelson’s como antigamente.
E pensar que Nelson fazia seus sambas, nunca por dinheiro , mas sim, pela alegria de consumir a a madrugada regada a bebida e muito cantoria.
Nelson esbanjava seu talento cantando em botequins até de madrugada. Hoje… a juventude amanhece: Pulando um tuctuc sem fim e sem nenhum conteúdo; critério, sentimento.
Acho que tenho muito que aprender sobre MPB… Belo texto sobre esse músico famoso que me era tão desconhecido.
“Faço músicas para tirar as coisas de dentro do coração e foi assim desde o dia em que fiz meu primeiro samba…”
Grannnnnnnnde Nelson!!!!!!!!
Salve o grande arquiteto da música brasileira!
Valeu Cara! obrigada pela riqueza de obra que nos deixou.
Uma verdadeira lição de vida.
Valdo, valeu pela dica e pela poesia cristalina dos sambas de Nelson, que vc nos relembra com essa homenagem. Seu blog está cada vez melhor. Vou retribuir mandando uma foto da turma lá de UBA, há mais de 30 anos atrás (ou 40???)
Nossa, Ana! Por volta de 30, 40… muito tempo. Fico feliz em saber que vc está lendo meu blog. Vou aguardar a foto. Abs.