Uma manchete de jornal pode provocar alguns equívocos; por exemplo, no último dia 30 de novembro foi publicado que “SP TEM A MENOR TAXA DE DESEMPREGO EM 20 ANOS, SEGUNDO DIEESE”. Que ótimo, pensaria o ingênuo cidadão, até que lendo todo o texto, a informação seja numericamente esclarecida: na região metropolitana de São Paulo o contingente de desempregados foi estimado em 1,06 milhão de pessoas.
Outra notícia do ano passado, que continua repetindo e repercutindo nas redes sociais: “ARTISTAS DE RUA SÃO EXPULSOS DA PAULISTA”. São jovens músicos, instrumentistas e “performers” variados. Nesta última categoria estão malabaristas, bailarinos e estátuas-vivas.
A proibição aos artistas de rua veio a partir de uma tal “Operação Delegada”. Nesta, policiais militares trabalham na folga para a prefeitura, coibindo o comércio ambulante irregular. As autoridades disseram ao Jornal da Tarde que “quando há qualquer tipo de exploração comercial, caracteriza-se um evento e há a necessidade de autorização da Prefeitura, que é competente para disciplinar o uso e a ocupação do solo”.
Se a Prefeitura “é competente para disciplinar o uso e a ocupação do solo”, porque não o faz? Precisaríamos de um plebiscito para isso? Quanto tempo seria necessário para redigir um documento que permita a artistas trabalharem nas ruas, bastando para isso um cadastro na Secretaria de Cultura do município?
O prefeito desta cidade esteve muito ocupado criando um novo partido político e um artista de rua não garante milhares de votos; então, é mais fácil coibir do que regularizar e permitir que um desempregado possa garantir seu sustento. As proibições são mais ágeis que as soluções e assim temos conflitos imensos, como aqueles recentes ocorridos na região da Rua 25 de Março.

O que falta a essas “autoridades” é uma visão mais ampla do que a arte pode fazer com um determinado local. Artistas caracterizam espaços urbanos e valorizam estes para além das fronteiras do próprio país. É de conhecimento mundial o quanto um artista valoriza uma região.
Na “Piazza Navona”, em Roma, músicos eruditos caminham pela antiga praça. Com um sinal gentil pedem licença e quando obtida, aproximam-se das mesas dos bares, colocadas no passeio público e tocam Vivaldi, Mozart ou outro grande autor.
O “Caminito” é atração imperdível em Buenos Aires com seus dançarinos e músicos de tango. Cantam, tocam e dançam para os turistas nas esquinas, convivendo harmoniosamente com os profissionais que exercem a mesma atividade nos bares e restaurantes locais.

Tenho um amigo que vai anualmente para “Colônia”, na Alemanha, para trabalhar como estátua-viva. Ele fica em frente à famosa catedral da cidade e nesses últimos anos nunca foi coagido pelas autoridades alemãs. E é bom citar que ele tem visto apenas como turista.
Tratar artistas de rua como mero “comércio ambulante” é lamentável. É desconhecer uma tradição milenar que legou-nos poetas, menestréis, saltimbancos que enriqueceram a cultura humana com o fruto de um trabalho árduo.
Tenho um imenso respeito pelos artistas de rua. Pelos nossos cantadores nordestinos, nossos poetas de cordel; artistas que têm um extraordinário domínio de seu ofício, este quase sempre aprendido via tradição familiar. São improvisadores incríveis e, notável ainda, em um país ainda marcado pelo analfabetismo, improvisam em versos!
Outro dia, passando pela Praça da Sé, parei para ouvir por alguns minutos um rapaz com um violão, interpretando Raul Seixas. A música suavizando o caos de veículos motorizados, religiosos pregando aos borbotões. Em outro momento, na mesma região, um grupo típico nordestino – zabumba, acordeom e triangulo – animava alguns transeuntes que dançavam, como se o calçadão fosse um belo salão de festas.
O que me conforta é saber que o atual prefeito irá passar, será esquecido da mesma forma que não nos lembramos dos artistas de rua. Só que estes permanecerão. É a história que nos permite afirmar isto. A tenebrosa Idade Média não acabou com os menestréis e a indústria do entretenimento não acabou com a arte de rua. Seria bom que as autoridades e os responsáveis pela “Operação Delegada” refletissem sobre essas questões.
Bom final de semana!
Nossos governantes deveriam fiscalizar os pastores, nas esquinas, levantando fortunas a partir da ignorância do povo. Mais arte e educação, menos pastores.
Oi, Valdo! Lembra-se de mim? Esse artista que esta em Colônia é o Wlad? Só pode ser ele. Que bom que cheguei no seu blog. voltarei mais.
Olha eu aí geeeeeeeennnnnte de turista internacional!
Acho que não tenho esta foto, Valdo.
Cadê a “Operação Delegada” para se preocuparem com os pontos de drogas?
Qual será a razão de não se preocuparem com os espaços ocupados pelos traficantes e usuários?
Meus protestos em relação a essa ação contra os nossos artistas paulistas.
Se Deus quizer, em fevereiro estarei na Argentina, me divertindo os artistas daquela banda de lá. Não é Edna???????
Walcenis e Sirlene, desculpem-me. Exclui os comentários, para evitar equívocos. Obrigado pelo apoio. ah, depois mando o original da foto. bjs.
O mais recente registro da perseguição aos artistas de rua pode ser visto no link:
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/12/artista-de-rua-nao-e-camelo-dizem-profissionais-de-estatua-viva.html
Juntos com o “Roupa Nova” – Vamos cantar para esses … “Nos bailes da Vida:”
“…. Todo artista tem de ir aonde o povo está
Se foi assim, assim será…
Quem sabe assim, adquirem pelo menos uma noção da importância desses artistas para todos nós.
Muito bom o texto…
Isto é Brasil……..
Caminito? Depois vc conta o que é isso da terra do Maradona.