Nas vésperas de uma eleição é assustador ler o título no UOL: “A dois dias da votação, 2.830 candidatos podem ter eleição anulada com base na Lei da Ficha Limpa.”
Fernando Sabino, o escritor mineiro, escreveu que “O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove.” Nas atuais eleições, o perigo não é escolher um, entre os 2.830 que aguardam decisão judicial, mas escolher um entre os milhares de outros corruptos que, por enquanto, livres do braço da justiça, ainda estão com a ficha limpa.
Não vivemos com nostalgia de escolhas políticas. Vivemos com receios, já que é raro o político de caráter íntegro. E também cumulamos frustrações perante escolhas de candidatos que, no poder, mostraram a face corrupta, a indiferença aos reais problemas da sociedade, a falta de cumprimento de promessas, além de evidentes crimes em ações que nossa justiça, filha predileta da preguiça, demora a julgar.
Um número considerável de brasileiros tende a menosprezar uma eleição. Cansados e desiludidos com as atitudes de muitos políticos, e com a lerdeza da justiça, preferem o desdém, o descaso. A vida é lenta na esfera política e exageradamente rápida nos efeitos da ação dos políticos sobre a população. Assim, é compreensível o desalento, o desânimo de muitos dos nossos irmãos brasileiros.
É delicada a nossa responsabilidade nesse momento de escolha. Temos que esquecer os aparentes cordeiros, a fé dos falsos profetas; precisamos ignorar aspectos físicos, já que beleza é totalmente dispensável, voz bonita também. A excelente fluência verbal é arma poderosa de enganadores. Sobretudo temos que tomar cuidado com alianças e apadrinhamentos. Tão velha quanto a sociedade humana, as alianças são mero jogo de interesses particulares ou de pequenos grupos. Quem escolher?
Não há como negar que avançamos. Por mais que apareçam subterfúgios, por mais atrasos que imponham à justiça, estamos avançando. Esta é a história. De triste herança, nossos coronéis políticos estão em extinção; a população, cada vez mais, exige honestidade, transparência, respeito. Um processo lento, mas inexoravelmente destinado a avançar.
Não tenho a ilusão de ver o mundo sonhado por muitos, mas compartilho da fé na construção via pequenos passos. O passo deste final de semana é votar com a certeza da coisa certa; rezando para que não tenhamos os olhos desviados pelos falsos brilhantes políticos, nossa inteligência entorpecida pelo discurso enganador. Vamos em frente, colocar nosso voto de confiança em um mundo mais digno. Lembrando, mais uma vez, o genial Fernando Sabino, vamos em frente, com esse pensamento na cabeça:
“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”
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Bom final de semana!
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Notas: as citações de Fernando Sabino são do romance “O Encontro Marcado”.
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Só sei que os derrotasos vão hoje curtir no travesseiro o cansaço e refletir sobre a estratégia de convencimento que não deu certo.
É verdade que o processo é longo, mas se percebe nitidamente que a grande maioria esta atenta a separar o joio do trigo. Pena que algumas bacterias nocivas permanecem ou são infiltradas.
O que fazer se vazou para o segundo turno um podre e um deteriorado? trist dilema!
Se eu não amasse tanto a minha cidade, com certeza, eu faria parte desse “número considerável de brasileiros que tende a menosprezar uma eleição” . Quanta barganha! Até nas entrelinhas.
Estou num grande dilema: Não sei se ópto pelo chapéu ou pelo guardachuva.hahahahahahahaha…