
Como é possível ter problemas com água estando em um país com doze bacias hidrográficas? Desde criança estudamos geografia e, orgulhosos, guardamos as informações das imensas riquezas nacionais; a água está entre elas. Por conta disso, mais a influência indígena na nossa cultura tomamos um, dois banhos ou mais por dia. “- Somos pobres, mas somos limpinhos” diz a piada popular. No entanto, de um tempo para cá, vivemos a ameaça da falta de água até em São Paulo, a mais rica entre as capitais brasileiras. Exagero ou não, fala-se até em êxodo! Parece loucura imaginar a megalópole vazia, com seus edifícios abandonados, o povo abandonando tudo em busca de vida, de água.
Sair! A história não é nova. Basta lembrar “O Quinze”, quando Raquel de Queiroz contou-nos a história de Chico Bento e de seus familiares vitimados pela seca cujo ápice foi em 1915. Esta levou Chico a munir-se dos poucos pertences e, saindo do Ceará, rumou para o norte. A borracha era promessa de fortuna e água é o que não faltava na bacia amazônica – a maior do mundo. A viagem foi trágica e a família de retirantes tomou novo destino, São Paulo, o mesmo que seria procurado por milhares de outros nas décadas seguintes. A cidade, que já foi chamada de terra da garoa, tornou-se a maior da América do Sul
Estamos em 2015. Cem anos depois vivemos uma situação insana. Chove sempre em São Paulo. Apesar de chuvas fortes, de tempestades que derrubam árvores e provocam alagamentos, convivemos com a ameaça de um colapso por falta de água em nossas torneiras. Custa a acreditar que haja problema de seca com tanta água que cai do céu. Todavia, água tem destino certo, drena a terra, corre rumo ao mar, evapora. É preciso represá-la para garantir o abastecimento de toda e qualquer cidade. Represar é o problema.
Vi, no Estado do Piauí, a colocação de calhas no entorno de telhados direcionando a água da chuva para reservatórios domésticos, chamados “caldeirões”. No Estado de Pernambuco presenciei a construção de sistema similar, a água preservada em grandes tanques de borracha. Aprendi que o lago de Sobradinho, na Bahia, suporta dois anos de estiagem e sei que a perfuração de poços artesianos dura de cinco a vinte dias. Li que o governo federal liberou R$ 2,6 bilhões para a construção de um novo sistema de abastecimento para São Paulo que ficará pronto só em 2017. A maior escassez de água, dizem, é para 2015. Bate um receio enorme! Um grande amigo tranquilizou-me: a importância econômica de São Paulo obriga a uma solução. Resta saber qual!
São Paulo completa 461 anos! O maior presente para todos os paulistanos seria a veracidade de informações. Transparência quanto ao que realmente está acontecendo. Não se trata de saber apenas por quanto tempo teremos água. IMPORTA SABER O QUE ESTÁ SENDO FEITO PARA ENFRENTAR A ESCASSEZ DE ÁGUA NA METRÓPOLE! Ou será que nossos governantes pensam que repetiremos o “O Quinze” e tomaremos rumo ao norte? De minha parte, declaro amorosamente hoje e no aniversário de 25 de Janeiro de 2015: Não tenho a menor intenção de abandonar minha cidade. Quero sim, enfatizar todo o afeto pela cidade que escolhi para viver.
Feliz aniversário, São Paulo!
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Nota: Em anos anteriores escrevi outros textos, louvando a cidade. Quero colocar os links abaixo para reiterar meu amor pela cidade.
VERSOS DE MARIO DE ANDRADE PARA COMEMORAR SÃO PAULO
https://valdoresende.com/2012/01/24/versos-de-mario-de-andrade-para-comemorar-sao-paulo/
SÃO PAULO, COMOÇÃO DA MINHA VIDA
https://valdoresende.com/2013/01/24/sao-paulo-comocao-de-minha-vida/
SÃO PAULO FEITO GENTE.