
Fazendo o caminho contrário dos Bandeirantes, pela via de mesmo nome ou pela Anhanguera, sempre me senti em São Paulo quando o ônibus ou o carro corria paralelo ao Rio Tietê. Sei, por anos de estrada, que a paisagem urbana é vista a partir do quilômetro 31 da Rodovia dos Bandeirantes. Cidades periféricas, os primeiros bairros e a cidade mesmo era o encontro com o rio parado, lamacento, escuro e denso.
Meu rio, meu Tietê, onde me levas?
Sarcástico rio que contradizes o curso das águas
E te afastas do mar e te adentras na terra dos homens
Onde me queres levar? (1)
Como qualquer migrante, temeroso ante o desconhecido, ávido para alcançar o futuro almejado, pouco sabia da cidade. O Pico do Jaraguá não era a cidade. A Editora Abril, a igreja de Nossa Senhora do Ó, o Estadão, o Play Center… aí sim, tinha a certeza de haver chegado na cidade que escolhera para viver.

Sonho ser poeta e sinto-me distante ainda da poesia que São Paulo merece. Daí recorrer a Mário de Andrade para, nestes 2012, comemorar dignamente os 458 anos da cidade. Não sou poeta; sou antropófago tal qual Oswald de Andrade sugeriu. Por isso, aproprio-me dos versos do poeta da cidade, e tal e qual Macunaíma, faço-me parte do Clã do Jabuti e defino-me nestes versos:
Sou o compasso que une todos os compassos
E com a magia dos meus versos
Criando ambientes longínquos e piedosos
Transporto em realidades superiores
A mesquinhez da realidade. (2)
São Paulo tem a dimensão do mundo, e a síntese humana é reconhecida, visível, habita na cidade. A cidade é “Europa, França e Bahia”. Tudo e todos são bem recebidos e a capital paulista é a verdadeira síntese da miscigenação brasileira, indo além do português, do índio e do africano. Aqui, a japonesa namora o árabe, o grego namora a chilena e assim, tudo junto e misturado, vive o dia-a-dia da cidade.
Ninguém ignora a inquietação do clima paulistano…
Desta cidade histórica, desta cidade completa,
Cheia de passado e presente, berço nobre onde nasci. (3)
Nasci em Minas e nasci em São Paulo. Se lá foi onde tudo começou, aqui fui me completando. E como eu, milhões. Lar, amigos, trabalho, escola, enfim, tudo somado ao que trouxe de Uberaba. Refiro-me a esta como minha cidade, e refiro-me a São Paulo como minha cidade. Geminianamente dividido retorno aos versos de Mário de Andrade:
Quando eu morrer quero ficar
Não contem aos meus inimigos
Sepultado em minha cidade
Saudade(4)
Sem mortes, sem tristezas. Hoje é aniversário da cidade de São Paulo. Que muitos possam, como eu, agradecer e comemorar com propriedade mais um ano da nossa cidade. Quem souber que faça versos; quem for capaz que componha canções. Todavia, que a cidade que acolhe tanta gente, receba o afeto, merecido, de todos que aqui vivem.
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Parabéns, São Paulo!

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Até!
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Referências:
(1) Meditação sobre o Tietê – Mário de Andrade
(2) Clã do Jabuti – Carnaval Carioca – Mário de Andrade
(3) Marco da Viração – Momento – Mário de Andrade
(4) Lira Paulistana – Quando eu morrer – Mário de Andrade
É com a letra de uma bela música de Caetano Veloso que presto a minha homenagem a esta incrível cidade de São Paulo:
“Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
da dura poesia concreta de tuas esquinas
da deselegância discreta de tuas meninas…”
“Alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João, é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi, da dura poesia concreta de tuas esquinas…” Lindo lindo lindo!!! Textooo lindooo Valdinhoo!!! Parabéns São Paulo!!!!
He He He Heeee… São Paulo. Parabéns!
Seus textos sempre maravilhosos soam como poesia para mim, mexem com os meus sentidos, me alegrando, me emocionando, me fazendo refletir… Adoooooro!!! Beijos!
458 aninhos? Uma adolescente como eu. kkkkkkk…
Parabéns!
“São oito milhões de habitantes, de todo canto e nação que se agridem cortezmente correndo a todo vapor…. Sãoooo São Paulo meu amor!”
Assim cantavamos no final dos anos sessenta, e a canto até hoje. Amei essa cidade tanto e queria viver lá, mas ela cresceu demais e hoje me assusta.
Parabéns por mais este texto Waldo.
Olha a Celia aqui geeeeeeente!
Apareceu a margarida…. ou melhor aprendeu a margarida! KKKKKK
Não me atrevo a poetizar nem para felicitar a sua São Paulo querida. Desejo apenas um Feliz aniversário, Sao paulo.
Que feriadão em plena quarta feira!
lindo, mesmo!
Se enganou ao escrever que sonha em ser um poeta,vc é um poeta e um escritor incrível,quero ser como vc quando crescer(rs).bjs.
Vou tentar ser uma poetisa para comemorar você. Tá mais interessante.
adorei o compasso entre os compassos.
Pingback: O que está sendo feito por São Paulo? | Valdo Resende
Belo texto! Parabéns!
Fiz esta música para homenagear os 450 anos da cidade de São Paulo. A música tem 14 anos. A cidade faz hoje 464 anos. A música é ainda adolescente, mas pretende retratar essa experiente, generosa e bela senhora! Parabéns, São Paulo querida! https://www.youtube.com/watch?v=oa5R7QUUmys