(A força de um poema de Lêdo Ido: arma nesses tempos de luta pela educação.)
Quem tapa minha boca
Não perde por esperar:
o silêncio de agora
amanhã é voz rouca
de tanto gritar.
Quem tapa meus olhos
nada esconde de mim.
Sei seu nome e seu rosto,
o lugar em que estou,
sua noite sem fim.
Quem tapa meus ouvidos
me faz escutar mais.
Igualei-me às muralhas
e o silêncio mais fundo
guarda o rumor do mundo.
Quem me quer sem memória
erra redondamente.
Lembro-me de tudo
e, cego, surdo e mudo,
até do esquecimento.
E quem me quer defunto
confunde verão e inverno.
Morto, sou insepulto.
Homem, sou sempre vivo.
Povo, sou eterno.
Lêdo Ido, ‘Precauções Inúteis’ in “Melhores Poemas”.