Amanhã é o aniversário da Avenida Paulista. Optei por, neste primeiro momento, recordar um post que escrevi em outro aniversário, o da cidade de São Paulo.
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Tive o privilégio de, chegando a São Paulo, ter a Avenida Paulista como primeiro endereço. A capital era local de passagem, antes dessa mudança; um local de curtas estadias para curtir shows, peças de teatro ou para consumir objetos necessários e fúteis de vasto mercado. Vim tornar-me “paulistano” residindo na avenida mais charmosa da cidade.
Na Paulista os faróis já vão abrir
E um milhão de estrelas prontas pra invadir
Os jardins onde a gente aqueceu numa paixão
Manhãs frias de abril…
Tendo a Avenida Paulista como epicentro fui, lenta e perenemente conhecendo a cidade. Meus primeiros dias por aqui, como qualquer migrante, tinha a busca de um emprego como atividade primeira; chegada a noite, um mar de possibilidades bem próximas de casa. No Teatro Popular do Sesi encenavam “A Falecida”, de Nelson Rodrigues. Namorei intensamente a exposição permanente do Masp – que viria a ser referência em todas as minhas futuras aulas de arte. Lembro da tristeza durante a primeira Corrida de São Silvestre, por estar longe da família, e da alegria em saber do resultado do vestibular no hall do prédio da Gazeta.
A Paulista sempre foi lugar de gente interessante, de todos os tipos. Em uma distante manhã percebi um certo alvoroço em torno de uma moça, entrando em uma livraria vizinha da minha casa. A moça era MARIA BETHÂNIA. Posteriormente vi o primeiro show de DANIELA MERCURY em São Paulo, dei um cigarro para BETH FARIA e dividi uma mesa de bar com CAZUZA. Tudo na Paulista! Logo tive que bater em retirada, morar próximo do emprego conseguido, economizar no aluguel, na condução…
Se a avenida exilou seus casarões
Quem reconstruiria nossas ilusões?
Me lembrei de contar pra você nessa canção que o amor conseguiu
Um dia cogitou-se de tombar os casarões da Paulista; esses se tornariam patrimônio histórico municipal. Antes que a lei tramitasse pelos canais competentes, os proprietários apressaram-se em destruir as fachadas dos casarões. Uma visão grotesca que tive, passando de ônibus pela avenida. Desci do veículo e fui ver de perto o resultado de uma idéia mal colocada, tornada desastre paisagístico pela ganância dos proprietários das mansões.
Você sabe quantas noites eu te procurei nessas ruas onde andei?
Contam onde passeia hoje, esse seu olhar
Quantas fronteiras ele já cruzou no mundo inteiro de uma só cidade
Zanzei por vários outros bairros e, um dia, voltei a morar na Avenida Paulista. Bem ao lado do Parque Trianon, em um edifício charmosamente decadente. ELKE MARAVILHA estava entre os condôminos; se RITA LEE era “a mais completa tradução” para a cidade, ELKE era o mesmo para o Edifício Baronesa de Arari. Eu me considerava ainda um estrangeiro, um mineiro fora de Minas. Prestes a entregar os pontos, definitivamente, para a Avenida, para a cidade.
Dividia um apartamento com três amigos. Uma cantora, um pintor e uma agente de turismo. A diversidade interna era imensa; entre as poucas unanimidades, a fotografia – chegamos a montar um laboratório doméstico – e as vozes de GAL COSTA e JANIS JOPLIN. Foram tempos de grandes aprendizados e, quase prontos, tomamos destinos distintos.
Se os seus sonhos emigraram sem deixar
Nem pedra sobre pedra pra poder lembrar
Dou razão, é difícil hospedar
No coração sentimentos assim
Divido a posse de São Paulo com milhões de seres que estão aqui, alguns distantes, mas ainda proprietários apaixonados dessa “minha cidade”. Não moro mais na Paulista, mas estou nas imediações. Caminho por quatro quarteirões para chegar na local que ainda considero o mais bonito, o mais charmoso. Vejo a Paulista como NELSON KON, o dono da foto da avenida que ilustra esse post. Quando ouço VÂNIA BASTOS cantando “Paulista”, a música de EDUARDO GUDIN e J. C. COSTA NETTO dos versos que intercalam este texto, grafados em azul, mil e uma situações retornam, emergem de todos os anos, de toda uma vida nesta cidade de São Paulo.
Sou feliz em estar aqui. Muito feliz por usufruir da Paulista, uma paixão que ultrapassou o encantamento, a surpresa, algumas decepções e rompimentos. Vejo a Avenida Paulista como o coração de São Paulo, o meu coração em São Paulo. Por isso, nesse aniversário da cidade, minha total e dedicada reverência. Nesse feriado irei caminhar pela Paulista. Minha forma de desejar feliz aniversário para São Paulo.
Até!
(publicado originalmente em 22/01/2010, 10:42, no Papolog.com/valdoresende
muito bom!!!!
e amanhã eu vou caminhar na leopoldino!!!rs!!
A Leopoldino foi minha primeira grande avenida, Luís. Saudade. Abs.
e amanhã vou caminhar na leopoldino!! isso se não chover porque senão terei que nadar!!! rs!!!
Quando eu morava ai, havia um córrego e a avenida não inundava. As “natações” são frutos de uma engenharia precária.
Não há nenhum paulista como a Avenida Paulista. Parabéns!
“…Velhos tempos/
Velhos dias…”
A Avenida Paulista em São Paulo, é como o casamento. Começa no Paraiso e termina na Consolação. rsrsrsrsrsrrsrsrs….