
Cheguei por aqui, na Grande São Paulo, em 1979. Vim para o Seminário dos Padres Somascos e fui estudar filosofia no Mosteiro de São Bento. Nossa casa ficava na Vila Luzita, em Santo André; levei um tempo para diferenciar cada cidade, incluindo a capital. Era tudo uma imensa e atordoante megalópole.
Das primeiras coisas que percebi na gente simples, que vivia no mesmo bairro, era o hábito de procurar os padres diante de qualquer necessidade. Era ainda a época dos Governos Militares e o povo sentia-se mais seguro nas igrejas que nas delegacias. E foi um pedido de socorro que me levou, pela primeira vez, a enfrentar as consequências de uma enchente.
Era meu primeiro janeiro na região. Uma noite de chuva intensa e fomos chamados a prestar socorro para famílias que tiveram suas moradias destruídas em um desabamento. Era lama misturada com restos do que havia sido um lar; cacos de vidro, madeira, fotos, material de cozinha, peças de roupa, remédios, vasos com flores e lama, tudo enlameado e sabe-se lá quanto mais estava soterrado.
Em um espaço, com barro cobrindo tudo, estavam concentrados bombeiros, médicos e populares. Faziam um trabalho meticuloso sob o olhar perturbado de algumas mulheres e um homem. Ali, soterrados, estavam um bebê de seis meses e outro garoto, com quatro anos de idade. A imensa camada de barro, ainda bastante úmido, deixava evidente a impossibilidade de sobreviventes. As mulheres e o homem aguardavam a retirada dos corpos.
E desde então tem sido assim. Em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo assim como em muitos outros lugares. Enquanto escrevo este texto dou uma “sapeada” em dois sites e escolho, aleatoriamente, algumas manchetes:
GOVERNO PROMETE RECURSOS PARA ESTADOS E MUNICÍPIOS QUE ELABORAREM PROJETOS DE DEFESA CIVIL
OBRAS NÃO FORAM SUFICIENTES PARA DIMINUIR RISCO DE DESLIZAMENTO DE ENCOSTAS EM NOVA FRIBURGO, AVALIA CREA-RJ
SOBE PARA 66 O NÚMERO DE CIDADES EM SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM MG
Minha Minas Gerais ameaçada. Meu Estado com 119 municípios afetados. Quantos deslizamentos, quantos moradias destruídas? E lá se vão 32 janeiros desde o primeiro que teima em não sair da minha memória.
Ouro Preto, tão cara a todos nós! Neste blog queria escrever sobre o Barroco mineiro, as obras de Aleijadinho, a música dos tempos coloniais e de agora. Lembrar a poesia de Alvarenga Peixoto e Tomás Antonio Gonzaga e com eles reverenciar Bárbara Heliodora e Marília de Dirceu. No entanto, vejo ruas de Ouro Preto destruídas pelas enchentes, casarões desabados, a calamidade instaurada.
Não cuidamos direito do nosso patrimônio histórico muito menos das nossas famílias menos favorecidas. Naquele distante janeiro acolhemos, por um pequeno período, as famílias que perderam suas casas. Vi de perto o pavor da mãe que perdeu seus dois filhos. Dias depois, o tempo amainado, as famílias voltaram para o morro e teimosamente reconstruíram suas moradias.
Estou em São Paulo, venho de Minas. Durante a tarde de hoje elaborei três listas que concluem este texto. Nas duas primeiras os governadores dos dois estados, os Partidos Políticos pelos quais foram eleitos. Na terceira lista os nomes dos Presidentes brasileiros desses últimos 32 anos. É ler e refletir.



O mínimo a ser feito: lembrar e refletir sobre quem decidiu para onde e para quem foram destinadas as verbas que não sanaram o problema das enchentes.
Tanto dinheiro roubado e nada investido para que essas noticias pudessem ser evitadas. 😦
Não quero estar mais aqui para assistir essas catástrofes completando 64 janeiros.
Será que algum destes sabem de tudi isso.
É claro que nâo. E o bordão?
“Eu Não sei de nada”.
!Eu não vi nada.”
“Sou inocente.” etc.. etc.. etc…
A minha conclusão não muda: “Só mudam a coleiras.”