(Sem) Destino de Mineiro

Como mineiro fora de Minas Gerais, em um período das férias e em quase todos os feriados volto para casa. É obrigação. Sendo trabalhador brasileiro, e professor, só posso viajar depois do quinto dia útil: dinheirinho no bolso, contas pagas e aí, sim, sair com tranquilidade.

Façamos as contas: primeiros cinco dias úteis, dar de mamar aos braços – não fazer nada é bom demais – e acertar as finanças. Em seguida, no mínimo uma semaninha em casa, no meu caso, em Uberaba. Pelo calendário do mês de julho de 2012 o quinto dia útil será na próxima sexta, dia 6. Uma semana em casa, já salta pro dia 14 (D. Laura não vai gostar de eu sair lá em pleno sábado, dia 14; vai mais o domingo, 15). Aí, lembrando que sou trabalhador, devo voltar dia 29 para descansar dois dias, 30 e 31, das peripécias da viagem. Sobraram exatamente 13 dias para férias.

A idéia de estar em Minas já me faz totalmente mineiro e esquecido das influências verbais paulistanas uma pergunta não me sai da cabeça:

– Prondéquieuvô?

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Valdo Resende foto by Luis

Quando meu amigo Luis, lá da UNIP, fez essa foto, as férias estavam distantes.  Qualquer cidade da lista acima valeria um bom período de férias, exceto “Radiator Springs” (Não quero, obrigado!) e eu acrescentaria ainda outras: Tegucigalpa, Belém do Pará, Helsinki, Cairu, a Ilha de Páscoa…

– Prondéquieuvô?

Algumas viagens, já feitas, estão amorosamente arquivadas. Acumulei lembranças, álbuns de retratos, camisetas, bonés e muitos outros cacarecos. Somando todas essas bugigangas às que o cotidiano obriga e tenho uma enorme quantidade de coisas sobre as quais devo  “montar guarda”. Isso se torna mais um empecilho em cada momento de férias: quem fica para guardar a tralha toda? Então percebo que a grande viagem, aquela sonhada desde a adolescência, ainda não aconteceu.

Sem Destino / Easy Rider
Easy Rider, viagem e liberdade

Minha geração foi beneficiada com Easy Rider  (Sem Destino), o filme produzido por Peter Fonda, dirigido por Dennis Hopper, que ainda revelou Jack Nicholson. Jovens americanos, em 1969, buscam liberdade pessoal, distância de hábitos e costumes obsoletos. Era a Contracultura, resultante de fenômenos sociais que remontam a Segunda Grande Guerra, aos conflitos no Vietnã e à Guerra Fria. As personagens do filme (contrariamente ao título dado no Brasil) tinham destino definido, um festival em New Orleans. Dois jovens atravessando os EUA sobre motos. Em dado momento entra um terceiro. A idéia é de total liberdade.

Adolescente, somei literalmente “Sem Destino”, dos americanos, ao nacional “Sem lenço e sem documento”, da música “Alegria, alegria” de Caetano Veloso. Nasceu o sonho. Sair por aí, sem destino, sem pousada, sem hotel, sem bagagem, sem lenço, sem documento.

O governo militar tratou de amedrontar a molecada de então. A gente sabia de gente que desaparecia e tínhamos medo da polícia (que então, não existia para proteger o cidadão, mas o Estado). Isso resultou em que cresci portando documentos. Sem oportunidades sonhadas de trabalho em minha terra, viajei para o mundo com destino geográfico definido, mas com a indefinição do vir a ser, do que seria possível conseguir.

– Prondéquieuvô?

Como milhares de migrantes brasileiros eu venho, desde então, voltando para casa. Há viagens e viagens, se é que me entendem. Poucas foram concretizadas. Já fiz viagens emocionantes para muito longe; outras, inesquecíveis, para bem perto. Todas com destino traçado e com documento no bolso. E centenas de viagens para o cosmo, o profundo dos oceanos, o interior das grandes florestas…

Tenho a impressão de que, volta e meia, deixo de programar minhas férias esperando o momento de sair por aí. Pode ser de bicicleta, moto, carro. Até mesmo a idéia de ser andarilho me é fascinante. O sonho permanece. Sair por aí, livre de amarras, de conceitos, de regras, de vontades alheias. Apenas viajar. A idéia é instigante e só faz martelar em minha cabeça de mineiro:

– Prondéquieuvô?

Como mineiro, respondo: – Por enquanto, sei não, sô!

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Boa semana!

9 comentários sobre “(Sem) Destino de Mineiro

  1. Lisa

    No meio do ano, só tenho recesso de 15 dias, e olha a sacanagem, vão começar a contar no sábado dia 7, ou seja, já me roubaram o feriado de 9 de julho… Fazer o que? Só dá pra fazer passeios curtos… Melhor que nada… Boas férias!!! Aproveite muito! Beijos

  2. edna idalo

    E eu vou com vc, acho que temos o mesmo sonho.Ainda quero morar debaixo de uma ponte. ou numa casinha de sapé.

  3. marta amaral

    Menino, não é que gostei muiiiito de suas palavras, sou professora…e os “conflitinhos, ” são os mesmos, mas ainda beeeeem que vou à Paraty!

  4. Patricia

    Nossa Easy Rider na Versão Route 66 é um sonho para meu marido e devo acompanha-lo senão alguém vai na garupa no meu lugar….rsrsrs
    Mas adorei o trecho Já fiz viagens emocionantes para muito longe; outras, inesquecíveis, para bem perto.Estado de espirito,clima e pessoas tornam nossos destinos incríveis até numa casinha de sapê…vem para o Rio que ta perto de Sampa e de Minas da para decidir rapido a volta para qq um dos destinos.Cristo redentor esta sempre de braços abertos!

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