
Quando vi o comercial divulgando o “Compacto Duplo” de Roberto Carlos, pensei: – Bingo! Esses indivíduos sabem com quem estão falando. A mensagem estava endereçada para pessoas que sabem exatamente o que é um Compacto Duplo e que, certamente, estranhariam a expressão “CD – Single”.
Já nos habituamos com a expressão CD, que é Compact Disc, e ele vem “virgem” ou cheio de músicas, de imagens e diferentes possíveis arquivos. Agora, “CD – Single” é sempre uma dúvida, já que o dito cujo vem com uma ou várias canções. A mensagem do novo trabalho “Roberto Carlos – Esse cara sou eu” revive uma expressão que os milhões de fãs do Rei entendem bem. Se o “Brasa” lançasse um compacto simples, viriam duas canções. No atual, compacto duplo, vem quatro. A única vantagem do presente objeto: não precisa “Virar” o disco. As quatro canções, sabemos bem, estão na mesma face.
Há tantas expressões estrangeiras no mercado! Chega a irritar, principalmente quando percebemos que a idéia é “agregar valor”, ou seja, tornar a bugiganga mais cara por conta do “single”, saca! Vamos ao exemplo: o mais recente CD do cantor, “Roberto Carlos em Jerusalém”, é duplo (ou seja, dois CDs no álbum) com 11 canções no CD 1 e outras 11 canções no CD 2, e está sendo vendido por R$ 39,80, num site que está aberto aqui, enquanto escrevo. O CD – Single, com apenas 4 canções e dessas, duas inéditas, custa R$ 9,90, no mesmo site. Façam as contas!
Sem mesquinharia! Não há dinheiro que pague uma boa música. O que compramos é uma reprodução, podendo ouvir quantas vezes quisermos, onde e como der vontade. O ruim é alguém mudar o nome da coisa e cobrar muito mais caro, porque o velho compacto vira “single”. Essa é uma boa forma de incentivar a pirataria, porque o povo não é trouxa e já percebeu, há muito, que gente de má fé tenta vender “singles”, como se um “single” fosse melhor que uma “canção”!
Os negociantes estão aí, sempre tentando tirar a grana da gente. Nesse momento presenciamos a volta de um nome – Compacto Duplo – em um formato diferenciado por um preço alto. O pior é retirarem um produto do mercado, alegando que o novo é melhor e, em seguida, voltam com o tal produto, agora tornado “cult” (olha aí, novamente o valor agregado!) e por isso, cobram um preço mais que abusivo.

Para exemplificar, minha amada, idolatrada, salve, salve, Maria Bethânia: A cantora lançou o CD “Oásis de Bethânia”; belíssimo e com a qualidade que faz dela uma das mais respeitadas intérpretes desse país. O CD está por razoáveis R$ 29,90 no mercado online. Este é o 50º disco da cantora e, para comemorar a data, a gravadora (leia-se negociante!) lançou um vinil.
Vinil é o nome que popularizam para o antigo LP, ou Long-Play. Faço parte de uma geração que comprou LPs de Roberto Carlos, Wanderléa, Chico Buarque, Elis Regina, Milton Nascimento e, entre outras feras, é claro, Maria Bethânia. LP era um “discão” com cerca de 6 músicas de cada lado. O vinil é o material de que são feitos os tais LPs que sumiram um tempo do mercado após o surgimento do CD, com suposta nova tecnologia, melhor som, melhor qualidade, etc. O vinil era material que riscava, furava, quebrava, enfim, algo velho e acabado.
Depois que o mercado foi infestado de CDs e até de outros formatos, resolveram reviver o LP, dizendo que este é maravilhoso, sensacional, com um som diferenciado e único e, provavelmente, por todas essas excelentes qualidades, custa no mínimo duas vezes mais que o CD. Exemplo básico: “Oásis de Bethânia”, o CD, custa R$ 29,90. “Oásis de Bethânia”, o vinil, custa R$ 68,90. Estão me chamando de otário?
A tecnologia avança e o CD já é quase passado. Convivemos atualmente com o mp3 e outras mumunhas digitais. A “decadência” do CD já é anunciada e, provavelmente, ele desaparecerá para, algum tempo depois, voltar “cult”, como o antigo LP, atual Vinil. Quanto custaria um vinil de Roberto Carlos?
Pague quem quiser; pague mais caro quem puder. E prossigam com a “viagem na maionese” divagando sobre as diferenças sonoras entre o 78rpm (só os mais velhos conhecem este), o LP, o compacto simples, o duplo, o CD, o mp3… E toda a aparelhagem necessária para que esses objetos possam cumprir a função. A boa música, até que merece. Mas é bom não esquecer aquela canção interpretada com propriedade por Elis Regina que dizia:
…nossos ídolos ainda são os mesmos
E as aparências não enganam não
Estão em casa guardados por Deus
Contando o vil metal…
Alguns desses ídolos, é bom prestar atenção, reclamam da falta de liberdade para gravar o que, quando, como entendem. Todavia, ficam caladinhos quando a discussão envolve o preço do disco, seja no formato que for, em suas belas casas, “contando o vil metal”. Roberto Carlos vende CDs e Compactos Duplos, assim como Maria Bethânia vende CD e Vinil. Se Roberto lançar um vinil, a máquina publicitária fará voltar o LP para o falar cotidiano. Tudo bem, desde que não esqueçamos que são meras peças da grande indústria que fatura alto, camuflando mesmices sob formatos diferenciados.
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Bom final de semana
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Nota:
Os versos acima são da música “Como nossos pais”, de Belchior.
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E onde eu vou por para tocar esse vinil?????
Comprar outro aparelho?
É ruím hein?
Mais uma música dedicada aqui para a walzinha. É mole?
Vinil; Cd. Lp, etc… Tô dentro.
Minha caixinha de LPs está guardada no maleiro faz tempo… Mais que o tempo que eu não tenho toca-discos… Ainda não tive coragem de me desfazer, pois alguns ganhei como presente de niver e estão assinados…