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Quem tem dois corações
Me faça presente de um
Que eu já fui dono de dois
E já não tenho nenhum… (1)
Ah! O nome da minha primeira namorada… Ela tinha cabelos loiros, encaracolados e um sorriso gracioso. Morava nas proximidades da minha casa e conhecemo-nos no primeiro ano de escola. Foi ela que se disse minha namorada… E eu gostei da ideia. Lembro-me dela muito bonita, cheia de laçarotes, vestidos rodados, bonita mesmo!
Botão de rosa menina
Carinhosa, pequenina
Corpinho de tentação
Vem morar na minha vida
Dá em ti terna guarida
Ao meu pobre coração (2)
O tempo passou… O primeiro amor, se é que se pode chamar de amor, veio quando vi dois olhos negros, profundos, de uma moreninha saindo da igreja no final de uma missa dominical. Demorei pra me aproximar e, tímido, passei meses andando de bicicleta pela rua onde ela morava. No bairro onde nasci, quando criança, eram muitas áreas por construir, transformadas em “campinhos” para brincadeiras. Foi em uma tarde nessas tais brincadeiras que tive a certeza, pela primeira vez, do interesse dela por mim. Passou, e a última vez em que estivemos próximos, foi durante um show do Roberto Carlos.
Se você quer ser minha namorada
Ah! Que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser… (3)
Tempo… Tempo… E aconteceu o primeiro beijo, bem distante da minha Uberaba, vindo de uma descendente de italianos, em Campinas, interior de São Paulo. Um namoro de férias, que durou um pouco mais. Dela recebi as primeiras cartas, cartões perfumados, fotos com dedicatória carinhosa; tudo guardado no baú de lembranças que há dentro do meu peito. Veio a adolescência, braba! E adolescente, sabe como é…
Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava…
Carlos amava Dora que amava
Pedro que amava tanto que amava a filha que amava
Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha (4)
De repente, tudo ficou sério. Namoro deixou de ser descoberta pra ser ensaio, projeto para uma vida a dois. Ideais muito distintos e os conflitos, inevitáveis quando não se sabe ao certo por onde irá a vida, onde aportaremos o barco, de que maneira atuaremos profissionalmente para ganhar o pão nosso de cada dia. Aqui deixo de falar de namoradas, recordando os desencontros da vida, as separações doloridas. Lembrando, agora, foi tudo muito bom, mas então, naquele instante, quando não deu certo… O tempo digeriu mágoas, serenou ânimos. Cada um pro seu rumo, construindo a própria história.
Quando me lembro da minha bela mocidade
Tinha tudo à vontade, brincando no boi de Axixá
Eu brincava com você naquela praia ensolarada
A sua pele bronzeada eu começava a contemplar… (5)
O amor concebido como troca, complemento, doação, veio só quando já adulto. Natural que assim fosse. A vida,todo mundo sabe, é um constante aprendizado. Não posso dizer que tenha sido perfeito, que estávamos prontos para viver o amor. Mas por ser troca, complemento e doação, foi incrivelmente melhor que tudo o que eu havia vivido anteriormente.
Quero-te mais do que imaginas ser possível
Te trouxe um búzio mágico dessa viagem
Marinha melodia ao pé do teu ouvido
Já que pensas que sou um marinheiro audaz… (6)
Era uma vez… E aqui estou eu, em véspera do dia dos namorados. As coisas não se repetem e, graças aos céus, melhoram. Resta-me viver intensamente o agora enquanto condição para a tranqüilidade e sanidade futura. Assim sigo em frente!
…da cor do azeviche, da jabuticaba
E da cor da luz do sol, eu te amo!
Vou dizer que eu te amo!
Sim eu te amo, minha flor… Eu nunca te disse.
Não tem aonde caiba, eu te amo.
Sim, eu te amo.
Serei pra sempre o teu cantor. (7)
Quem tiver sem amor, esqueça a timidez, a preguiça e vá à luta na noite de Sampa, na noite do Brasil.. Não foi por acaso que comecei este texto lembrando os lindos versos de FERNANDO PESSOA, musicados por FERNANDO MENDES e cantados pela MARIA BETHÂNIA. Já que namorar é muito bom, vale repetir a trovinha, desejando que todos possam namorar um pouquinho! E amar “bastantão”!
Quem tem dois corações
Me faça presente de um
Que eu já fui dono de dois
E já não tenho nenhum
Quem tem dois corações… (8)
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Até!
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Notas Musicais:
(1),(2) e (7) – Quadrinhas – Fernando Pessoa, musicado por ROBERTO MENDES.
(3)Minha Namorada – Vinícius de Moraes e Carlos Lyra
(4)Flor da Idade – Chico Buarque
(5)Bela Mocidade – Donato e Francisco Naiva
(6)Todos os Lugares – Tite de Lemos e Sueli Costa
(7) Eu te amo – Caetano Veloso
Publicado originalmente no Papolog em 12/06/2009 e atualizado em junho de 2013/Valdo Resende.
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muito bom o texto!!!
Afffff Valdo! Se era isso que você queria, conseguiu! Me fez voltar no tempo igual uma adolescente boba…rs…AMEI!
É… acho que quase todo mundo passou pelo famoso “fulano ama cicrano, que ama…